Cultura

“Não pode haver liberdade com censura” declarou Lilia Schwarcz na Bienal do Livro 2019

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Entre os dias 30 de agosto e 8 de setembro, aconteceu mais uma edição da Bienal do Livro no Rio de Janeiro, cercada de polêmicas envolvendo a censura do prefeito da cidade. O OA esteve presente no sábado (08/09) e conta tudo que rolou por lá.

No espaço Café Literário, rolou uma conversa mediada por Marcelo Lins sobre ‘Autoritarismos e Democracias’, que teve como convidados a historiadora, antropóloga, e escritora Lilia Schwarcz e Steven Levitsky, que é cientista político e professor em Havard. 

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O tema abordado foi irônico, já que no dia anterior o prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella determinou o recolhimento da obra Vingadores – A cruzada das crianças, por conter uma imagem de dois homens se beijando. Segundo a prefeitura, a obra ia “desacordo com as normas”.

Imagem da HQ censurada pelo prefeito

No dia anterior (06/09), os fiscais da Secretaria de Ordem Pública (SEOP) foram até o evento com a intenção de cumprir a ordem da prefeitura, mas TODOS os exemplares já haviam sido vendidos. No dia que o OA esteve, ocorreram diversas manifestações. Cerca de 24 escritores recitaram versos da canção “Apesar de você” de Chico Buarque, em prol do livre amor.

Ainda no mesmo dia, o youtuber Felipe Neto distribuiu gratuitamente cerca de 14 mil livros com a temática LGBT para o público presente. Uma fila enorme se formou e todos os livros foram doados.

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Ainda durante o Café literário, Lilia falou que “o Brasil teve uma independência conservadora, monárquico, muito elitista,  não queriam acabar com a escravidão. Nossa experiência de república é muito jovem. Será que no Brasil a gente tem que perguntar como as repúblicas nascem?”
A escritora também declarou : “verde amarelo é de todos nós, mas hoje estou de preto” – a referência vem de encontro a fala do presidente Jair Bolsonaro, que pediu em tom de deboche aos seus eleitores brasileiros que usasse verde e amarelo no dia da independência, fazendo uma alusão ao episódio de Collor com os caras pintadas.

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O convidado Steven Levitsky que trouxe seu livro “Como as democracias morrem” revelou que “já foi em muitas feiras pelo mundo e nunca viu esse tipo de censura. Democracia quando a gente começa a perder, começamos a morrer. E que é ameaçador para qualquer país perder essas culturas plurais.”

Mediador Marcelo Lins retoma afirmando que “temos vergonha do nosso passado escravocrata.” 

A antropóloga Schwarcz responde dizendo que “com nosso racismo estrutural nossa cidadania não vai evoluir. Sabemos a data de pós-emancipação mas não sabemos a data do término. Somente políticas públicas é suficiente? Não.” 

Marcelo retoma sobre o episódio de censura “Existem formas mais claras de golpes militares, com exemplos de ataque a democracia?” 

Professor Levitsky responde “Quando falamos de Brasil e falamos de ataque a democracia logo pensamos em 64. Assim como no futebol é importante que o juíz seja neutro.”

A escritora Lilia diz que levou 9 anos para escrever sua obra sobre Lima Barreto “historiadores demoram para escrever, ficamos quase que amigos dos personagens. Usando a expressão que o presidente tanto gosta mas com outro sentido ‘Educação talvez seja o único que pode desarmar o gatilho da desigualdade social.’ Não há um Brasil de futuro com corte na pesquisa, deste jeito atacando a academia, o jornalismo, as instituições

Steven pontuou que “temos várias maneiras de enfraquecer a democracia. Com o esses ataques lentos a sociedade civil demora para perceber. E depois já é tarde demais, Cuba é um exemplo.”

Lilia Schwarcz finaliza expondo “tivemos um aumento de 10% no Brasil de bancada familiar. Pra quem disse que faria uma nova política…” 

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Camila Beatriz
Leonina mini Publicitária, com ascendente em Jornalismo. Almejo transmitir minha personalidade, seja na redação ou criação artística. https://www.instagram.com/camilabeatriz.fotografia/ https://www.linkedin.com/in/camilabeatrizs/

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