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‘Amor de Mãe’ chega ao fim sendo o terror da OMS e incoerente

Lurdes (Regina Casé) e Danilo (Chay Suede) se abraçam *** Local Caption *** Cap 123 - Cena 1 - Danilo (Chay Suede) e Lurdes (Regina Casé). Cena onde é revelado que Danilo é o filho que Lurdes sempre procurou.
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Nesta sexta (09), depois de quase 1 ano e meio do seu início, “Amor de Mãe” chega ao seu último capítulo, porém, totalmente deformada de quando começou.

Lá em novembro de 2019, quando a trama estreou, Manuela Dias tinha como objetivo nos proporcionar uma novela que fosse a mais realista possível, no qual deixou bem claro até nos últimos dias em seu perfil no Twitter. A primeira fase, exibida até março de 2020, chegou até a fidelizar isso, encerrando em seu ápice, no capítulo 102, com o atropelamento de Rita (Mariana Nunes), causada pela Thelma (Adriana Esteves).

Agora, um ano depois, após uma pausa longa em sua exibição devido a pandemia de Covid-19, a novela voltou absolutamente incoerente, trágica para o momento e com interferências visíveis de Silvio de Abreu, no qual a sua saída da Globo pode ser um respiro para as próximas tramas, pois conseguiu deixar “Amor de Mãe” com mais características de suas obras do que a da Manu.

Sequestro e morte falsa: uma mistura das novelas de Silvio de Abreu, Aguinaldo Silva e de Duca Rashid e Thelma Guedes

Quem é fã de novelas, deve notar que sempre há um sequestro que movimenta o final da historia, chegando até a servir de gancho para o último capítulo em algumas. Na trama das 21h não foi diferente: este método clichê foi utilizado com a Lurdes (Regina Casé). Sua ideia até parecia fazer sentido, mas agora, duas semanas na mesma situação, diga-se de passagem, uma baita enrolação.

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Compressível que a autora até tenha focado neste arco por conta das restrições a gravações, que impediu praticamente as externas da novela, com exceção deste rapto, que acabou desencadeando na revelação de ao Danilo (Chay Suede) de que ele é o Domênico. Agora, precisava durar tanto tempo? Isso só demonstra que a autora acabou pegando a mania deste clichê com Duca Rashid e Thelma Guedes, no qual foi colaboradora em “Cordel Encantado” e “Joia Rara”. Para quem não sabe, as autoras são reconhecidas por usarem um sequestro para movimentar a sua história.

E a morte falsa? Só demonstra que já tinha passado da hora de Silvio de Abreu parar de interferir nas novelas, apesar dele ter esse poder por conta de seu antigo cargo, o de chefe da teledramaturgia diária da emissora. A falsa morte de Lurdes deixou nítido que houve essa interferência, uma vez que o próprio autor já usou esse recurso em duas de suas tramas: “Belíssima” com a Bia Falcão (Fernanda Montenegro) e com Totó (Tony Ramos) e Clara (Mariana Ximenes) em “Passione”, em ambas ocasiões bem sucedidas. Porém, em “Amor de Mãe” não precisava desse mistério.

Para completar a mistura, na noite desta quinta (08) a Thelma sequestrou o seu neto. O acontecimento é parecido ao que Aguinaldo Silva usou no penúltimo capítulo de “Senhora do Destino”, em que a Nazaré (Renata Sorrah) sequestra Linda, a filha de Isabel/Lindalva (Carolina Dieckmann).

No capítulo que irá ao ar logo mais, é previsto acontecer o mesmo da novela em que foi ao ar entre 2004 e 2005: Thelma entregará o seu “neto” ao Danilo/Domênico e logo depois morrerá por conta do aneurisma. O que difere é que a morte de Nazaré foi um suicídio. Aliás, a vilã de Aguinaldo e a vilã de Manuela tiveram muitos pontos em comum, além do fato de serem interpretadas pela Adriana Esteves (a atriz foi a megera na primeira fase da trama). A diferença é que Nazaré, apesar de ser má, tinha um tom de comédia, diferente da Thelma.

O vilão era a vida, mas não acabou sendo

Quando a Manuela Dias estreou a trama lá no final de 2019, disse que a sua novela não teria vilões, já que a vida ficaria nesse cargo, porém, Silvio de Abreu não deixou e eis que há mais uma interferência dele.

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A proposta pode até parecer ousada, mas é nato que não dá para fazer uma história sem que tenha alguém com uma personalidade duvidosa. Por mais que na vida real não tenhamos em nosso convívio alguém que seja um vilã à lá Nazaré Tedesco ou Flora, é preciso alguém assim para movimentar. Até nas tramas de Manoel Carlos, que sempre buscava trazer a sua história para a realidade do Leblon, há alguém que pode ser destacado como vilão. Logo, vamos a mais uma interferência do chefe, ainda mais que, apesar de ter criado uma simpatia com o público, “Amor de Mãe” não vinha tendo uma boa audiência em sua primeira fase, com médias em torno de 30 pontos (seis a menos que a anterior, que era “A Dona do Pedaço”).

Incoerência em diversos momentos

Em novela já estamos acostumados em que os autores percam a noção em alguns momentos, vide isso em tramas de Aguinaldo Silva, Walcyr Carrasco e Glória Perez. Porém, nessa segunda parte, a Manoela praticamente afrontou o bom senso.

A começar pelo o atropelamento de Camila (Jéssica Ellen), no qual a personagem sofreu o acidente após ficar andando no meio da rua procurando sinal de internet no celular para fazer uma vídeo chamada. Para alguém que procura trazer o possível da realidade, sabe que não se deve fazer isso, principalmente em uma rua do Rio de Janeiro.

Outro momento nada coerente é da Vitória (Taís Araújo) ter aceitado falar com o agressor da vítima em que estava defendendo, o deixando a entrar no carro e, consequentemente, a ameaçando. Qual é a lógica disso? Qual advogada, em sã consciência e ética, aceitaria falar com o agressor de sua cliente sabendo que ele poderia até a matar? Ao final, a personagem diz que o mundo mudou e as mulheres não aceitam mais isso. A frase é importantíssima, mas não tinha outra forma de ter sido citada?

Nesta semana ainda teve a morte de Lucas (Nando Brandão), em cena completamente estúpida. O advogado vinha sendo ameaçado por Penha (Clarissa Pinheiro), a mando de Álvaro (Irandhir Santos), no qual havia rompido e denunciado para Vitória. Porém, ao invés de correr, praticamente se entregou para a capanga de seu antigo chefe, andando pela rua e se tornando um alvo fácil, ao ponto de mata-lo a luz do dia e não haver nenhuma repercussão a mais. Como o personagem, que ficou anos ao lado de um bandido, se entrega tão fácil assim a morte sem ao menos tentar escapar?

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Aliás, uma mistura de incoerência e falta de planejamento é deixar a cena mais importante de toda história, que foi o encontro da Lurdes e Domênico, para um capítulo de quarta, em que começa mais cedo por conta do futebol. O desfecho seria bem melhor se fosse no penúltimo capítulo ou até mesmo como gancho para o último, que com certeza renderia até bem mais audiência.

Falando no penúltimo capítulo, ainda apareceu nessa altura a mãe biológica do filho adotivo de Vitória, querendo a aguarda da criança. Uma disputa que poderia render bons momentos na trama foi deixada para um capítulo antes do fim, para a sua resolução rápida hoje. Qual é o sentido disso e o que vai agregar a personagem?

Isso sem contar da armação de Álvaro ao Farula (Mc Cabelinho) e Sandro (Humberto Carrão), no qual o ex-bandido, ao invés de chamar os seus amigos de crime, chama o seu amigo para sair de uma cilada armada pelo vilão. O nervosismo até justifica, mas faria mais sentido os seus outros parceiros.

Tira e põe de máscara: o terror da OMS

Algo que foi chamado atenção durante esses 22 capítulos exibidos foi a questão da máscara. Em casa, é compressivo o personagem estar sem máscara, em uma mera representação ao nosso convívio social, até mesmo no caso de um restaurante, já que é que vem acontecendo ao nosso redor. Agora, e em um hospital? Foi isso que aconteceu quando a personagem da Camila foi atropelada, em plena pandemia. A professora e o Danilo/Domênico ficaram conversando como se não houvesse Covid-19 no ambiente.

Nesse mesmo hospital, a Betina (Isis Valverde) ainda usou uma máscara errada, optando por uma com buracos ao invés da N95, que é a recomendada em ambientes hospitalares pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Não para por aí: logo após se curar da temida doença, Sandro (Humberto Carrão), que chegou a invadir o ambiente anteriormente, dá um beijo na boca de sua namorada no mesmo lugar.

Para afrontar ainda mais a OMS (Organização Mundial de Saúde), ainda teve um beijo no acrílico e strip-tease de máscaras entre Erika (Nanda Costa) e Davi (Vladimir Britcha) e o policial (Bruce Gomlevsky), durante o seu serviço, também sem a máscara na casa da vítima enquanto fazia o boletim de ocorrência. “Amor de Mãe” é uma fronta ao Dr. Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS.

Até o momento surpreendente da novela teve essa questão: no merchan da Itaipava a Aline Riscado, que é garota-propaganda da cerveja, entra no bar sem máscara para falar da bebida, vinda da rua como se estivéssemos naquele mundo pré-pandemia, apesar de aparecer figurantes ao fundo se protegendo da covid-19.

Excesso de mortes

A trama de Manuela Dias chega ao fim marcada por uma sequência de mortes, principalmente em sua última fase. Ao todo, 16 personagens (que deverá fechar com 18) faleceram durante os 124 capítulos exibidos. Apesar do número alta, este não é o recorde de mortes em uma novela. Quem detém esta marca são “Liberdade, Liberdade” e “Insensato Coração”, com 25 mortes ambas.

Porém, deste total, quatro personagens foram negros e isso acabou irritando os telespectadores e até mesmo a Jéssica Ellen, que mandou uma indireta a autora da própria novela em que trabalhou.

Personagens que sumiram

Com a segunda fase da novela, diversos personagens sumiram por diversos motivos, que vão desde contenção de gastos da Globo até por conta da redução de capítulos (de 54 para 23), com um foco mais no núcleo central. Porém, alguns simplesmente desapareceram sem explicação, como o caso do Tales (Alejandro Claveaux), que apareceu no primeiro capítulo do retorno, na morte de Estela, e desapareceu, sem deixar mais datalhes.

Além dele, o mais notado vem sendo os filhos da Vitória. A criança adotada até reapareceu essa semana, mas o bebê entre ela e o Davi praticamente nem existe mais na novela. Alguém viu essa criança?

Apesar de tudo, “Amor de Mãe” nos entregou a belíssima aguardada cena entre o encontro de Lurdes e Domênico. Se não fosse a pandemia, com certeza a trama teria um outro caminho, até mais coerente, e fecharia com uma audiência até maior.

Lembrando que, com essa trama, Manuela Dias conquistou a mesma façanha que só Aguinaldo Silva e Glória Perez conseguiram: de estrear como autora de novela no principal horário da TV brasileira.

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