
Nesta sexta (19) chega ao fim a reprise de “Haja Coração”, que durante os meses em que esteve no ar fez chegar a seguinte conclusão: é daquelas novelas que só vale ser vista uma vez, apesar do possível final inédito.
A trama, que é um reboot de “Sassaricando”, é cheia de enrolações e situações que chegam a soar constrangedoras, apesar da Mariana Ximenes (Tancinha) ter tido uma boa química com João Baldasserini (Beto). O mesmo não acabou acontecendo com o Malvino Salvador (Apolo), que fez praticamente o mesmo personagem que faz em todas as novelas, e que ao final, não casou bem com a história.
A química de Tancinha e Beto foi tanta que havia torcida para que os dois terminassem juntos, mas a filha de Francesca (Marisa Orth) acabou terminando com o Apolo por conta do seguinte motivo: Silvio de Abreu, na época chefe da teledramaturgia diária, achou melhor este final já que, caso terminasse com o Beto, não soaria um exemplo politicamente correto, visto que o personagem fez umas vilanias para conquistar a verdureira. Apesar disso, a reprise sai do ar com uma promessa de um final inédito, já que no final do ano passado foi gravado um desfecho em que Tancinha e Beto terminam juntos.
As cenas foram rodadas numa praia no Rio de Janeiro pela equipe de “Salve-se Quem Puder”, que praticamente é a mesma da trama de 2016 e no qual João está no elenco e a Mariana participa na última semana, que está prevista para ao ar em julho.

Indo para o núcleo dos ricos, a Tatá Werneck como Fedora também não chega a decepcionar no papel, porém, não fica a altura da humorista que ela é. Sua química com Gabriel Godoy (Leonardo) foi também um dos pontos altos da trama. Outro destaque deste arco é a Teodora Abdalla (Grace Gianoukas), que rende bons momentos e não deveria sumir da trama por tanto tempo.
Na inspiração de 1987, Teodora, então interpretada pela Jandira Maritini, morre no 12º capítulo. Já em “Haja Coração”, Daniel Ortiz optou por manter esse momento como um suspense, deixando na época em dúvida se a empresária havia morrido em um acidente de helicóptero armado pelo Leozinho para matar Fedora, à mando de Gigi (Marcelo Médici). Essa ideia acabou prejudicando o desenvolvimento desse núcleo, que poderia render bem mais com a presença maior da Grace, que vinha recém-saída de uma participação de “Cúmplices de Um Resgate”, novela do SBT que, de tão longa, ficou no ar antes, durante e depois da novela das sete. Em contrapartida, antes de reaparecer, foi feito um spin-off mostrando os dias de Teodora perdida numa ilha com o intuito de impulsionar o Globoplay, que tinha acabado de ser lançado. A ideia poderia ter sido descartada, uma vez que consegue ser sem graça e não acrescenta em nada a história. Na reprise atual, estas cenas foram encaixadas nos capítulos que foram ao ar.
O núcleo das três amigas falidas também não foi dos piores, que foram a Rebeca (Malu Mader), Penélope (Carolina Ferraz) e a ex-BBB Leonora (Ellen Roche). Diferente do arco envolvendo Bruna (Fernanda Vasconcellos), Camila (Agatha Moreira) e Giovanni (Jayme Matarazzo), que foi uma baita enrolação e poderia ser facilmente descartado.
Agora, o maior destaque da trama, junto com o núcleo principal, com certeza foi Shirlei (Sabrina Petraglia) e Felipe (Marcos Pitombo), que tiveram uma química ao ponto dos fãs do casal “Shirlipe” pedirem para os atores largarem os seus relacionamentos e namorarem entre si. Realmente, a delicadeza dessa história, que pode ser chamado de um “conto de fadas urbano”, encaixou muito bem para a história e supriu os demais núcleos rasos. Ao invés de apostarem um spin-off de Fedora, uma produção derivada sobre Shirlipe sairia bem melhor e até ajudaria o streaming a crescer na época.

A novela sai do ar mais assistida do que na sua exibição original na Grande São Paulo (1.914.425 agora contra 1.874.259 em 2016). Na sua exibição original, assim como na reprise, a audiência foi impulsionada por “Totalmente Demais”, que conseguiu ter índices maiores no ano passado do que quando passou entre 2015/2016. Em 2016, o sucesso de “Eta Mundo Bom” às 18h e o alto ibope da segunda edição do SP TV também ajudaram a história de Daniel Ortiz.
O êxito da trama em 2016 se dá ao momento em que a trama foi ar, em um ano atípico e com bastantes de tragédias. Naquela época tivemos o impeachment da Dilma e as manifestações pró-impeachment que se espalharam pelo país, Olimpíadas no Rio de Janeiro, atentado na França, desabamento da ciclovia Tim Maia também no Rio de Janeiro, Operação Lava Jato pautando os telejornais, com direito a condução coercitiva do ex-presidente Lula, a epidemia de Zika, eleições municipais e a trágica morte de Domingos Montagner durante as gravações de “Velho Chico”, trama que ia ao ar as 21h, contribuíram para que o telespectador buscasse um refúgio na história de Tancinha. Ainda neste mesmo ano tivemos o trágico acidente aéreo envolvendo o time da Chapecoense, mas quando aconteceu a novela já tinha acabado semanas antes.
De tanto sucesso que foi, a Globo queria esticar a trama até janeiro de 2017, mas devido aos compromissos profissionais dos atores, não foi como. Com isso, encerrou com apenas 137 capítulos.
Apesar do êxito, “Haja Coração” é daquelas novelas que vale assistir na sua exibição inédita, mas que não vale a pena uma reprise, pois assim, acabamos enxergando o que não vimos pela primeira vez e pode acabar perdendo o encantando e até nos fazendo perguntar como assistimos. Apesar disso, visto ao momento em que estamos passando e a necessidade de uma reprise, foi uma boa opção nesse sentido. Uma vez que, conforme relatado na análise sobre “A Força do Querer”, a Globo também não fez muitos sucessos na faixa das 19h na década passada. Além dessa, somente “Ti Ti Ti” e “Morde & Assopra” estavam na disputada, e das três, o que prevaleceu além da audiência, foi o fato de ser uma trama curta em relação as outras duas.