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Entrevista – Criolo fala sobre seu EP “Existe Amor”, em parceria com Milton Nascimento

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Em meio aos tempos difíceis que estamos vivendo, um olha sobre a condição humana. É assim que pode ser chamado “Existe Amor”, o EP que une Milton Nascimento e Criolo.

Lançado no mês passado, o projeto contém quatro faixas, dentre as quais estão “Cais” e o sucesso “Não Existe Amor em SP”, esta última inclusive ganhou um clipe que mostra a cidade de São Paulo deserta por conta do isolamento social. Para o cantor, este é um olhar poético que mistura com a mensagem

Na entrevista, o cantor conta que conheceu Milton durante uma premiação em 2013, com uma ajudinha do Ney Matogrosso e resume que o EP é uma mensagem de urgência para perceber as desigualdades sociais.

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OA – Como surgiu a ideia do EP e da parceria com o Milton Nascimento?

Criolo – “Começa um pouquinho lá trás em 2013. Esse EP é reflexo de uma amizade que foi sendo construída do modo mais carinhoso e afetuoso do mundo do mundo, sabe? Mas tudo começa em 2013, no Prêmio da Música Brasileira, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em que Ney Matogrosso de um modo muito gentil e carinhoso comigo, pra não ficar um pouco perdido por lá, falou: “vamos aqui, fica aqui nesse espaço com a gente, nesse camarim que com a gente, até dar o seu horário de ensaio”. E quando eu cheguei ele estava dividindo o camarim com o Milton. Então nossa amizade começou a partir dali, né?

E depois tive a honra de ser convidado pelo Milton para fazer algumas apresentações com ele numa tour chamada “Linha de Frente”, que é o nome de uma música minha que ele gosta, e aí eu fui aprendendo com o mestre. Aprendendo e aprendendo com ele. A cada vez que a gente ia no palco, a cada segundo de vivência com o mestre, eu fui aprendendo com ele e essa mensagem foi crescendo e crescendo. Sempre muito bom quando a gente está junto, e depois de algum tempo eu estava nos ensaios de preparação, desculpa, eu estava em um dos dias de preparação de elenco, com uma equipe de atores maravilhosos, para fazer tudo que aprendemos juntos. Lázaro [Ramos] estava nesse dia também. E recebi uma ligação que o Milton queria falar comigo e ele me pediu para fazer uma letra pra ela musicar para uma amiga. E aí nasceu “Dez Anos”. Foi muito emocionante isso tudo para mim.

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Então começou a partir disso, com essas pessoas maravilhosas em torno, dessa tessitura de situações. Depois a gente continuou a nossa amizade. Teve outro momento de apresentações um pouco mais pra cá, que cantamos juntos algumas canções também, mas acho que nasceu disso. Desses encontros, dessa amizade, desse afeto nosso. Depois a gente quis gravar essa música e a gente começou essa ideia de termos algo juntos, termos um disco juntos. Então há dois anos e meio ou dois anos atrás gravamos “Dez Anjos” e gravamos “Tambor” que é uma parceria maravilhosa eu, Milton e [Arthur] Verocai, onde ele faz os arranjos para essas duas canções. Tem a direção do Daniel Benjamin, um time de músicos maravilhosos. Passados dois anos, vivendo as experiências de cantar junto, recentemente teve essa tour do “Clube da Esquina” em que ele faz homenagem os amigos e relembra as canções. Ele cantou “Não Existe Amor em SP”, que já havia cantado no Festival Coala junto comigo, em que gentilmente me convidou para essa apresentação também. E aí, depois de dois anos, a gente pensou que podia gravar essa, que ele gostava muito de cantar nos shows. Eu tive a oportunidade de cantar “Cais” no show, tive a oportunidade de cantar “Cais” em outros lugares também. Lembro de uma homenagem muito maravilhosa no “Altas Horas”, Serginho fez uma coisa linda homenagem ao Milton e eu cantei “Cais”. Foi muito legal porque o Ney estava lá também e faz parte dessa história desde o início. E aí foi isso. Esse tanto de afetos e de energia energias boas fez com que se encaminha para esse disco. Então foi desse jeito. “

OA – Apesar do projeto ter sido gravado antes da quarentena, o clipe de “Não Existe Amor em SP” mistura imagens do estúdio e também do isolamento social em que estamos vivendo. Essa ideia de misturar o antes e durante surgiu como?

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Criolo – “Foi um olhar muito poético de quem fez a direção. Porque também esse EP é a energia de amor e de afeto ao redor dele, tinha que que desaguar algo assim para abraçar o planeta, sabe? Para abraçar o mundo. Lembrar que cada pessoa tem dentro dela: um coração, emoção, alma. E muito amor, muito amor para dividir com o planeta. Então deságua esse projeto “Existe Amor” que fortalece as instituições, fortalece organizações e pessoas que dedicam sua vida aos trabalhos humanitários. Sobretudo as pessoas em situação de risco social, as pessoas que estão morando na rua, que estão completamente desamparadas. Então, essas imagens e essas situações todas vêm apresentar um tanto dessa dessa urgência para essas ações. Então um olhar muito poético, um olhar delicado, muito sensível de quem assumiu essa direção. Toda essa equipe linda, organizada de última hora, que chama o amigo do amigo que chama outro amigo que chama outra pessoa pra isso acontecer. Foi muito mágico.”

OA – Qual é a mensagem que você pretende passar com o EP para quem está ouvindo durante a quarentena?

Criolo – Eu acho que a mensagem é de que existe uma urgência de se perceber o quanto as desigualdades sociais criam um ambiente de extrema dor, um ambiente cruel, um ambiente que nos leva a visitar emoções e sensações que destroem, que possam vir a destruir aquilo que a gente tem de tão valioso que é a nossa estima, nosso equilíbrio, nosso bem estar emocional e físico, pois quando falta não só sofre o corpo, sofre a alma mas o corpo sofre também, né? Mas tem isso, dessa emergência, desse olhar, mas dentro de um caminho de abraço fraterno, de abraço de afeto, para a gente percorrer esse caminho de se entender essas urgências, mas também entender que dentro de nós nós temos uma força sublime suprema de amor e juntos a gente pode construir coisas lindas. Acho que é isso. Essa é a tentativa. Esse abraço de afeto, de carinho e de amor, que essas canções possam tocar no coração das pessoas e que possa lembrar às pessoas o quanto elas são valiosas, o quanto elas são importantes.”

OA – Quais são os seus projetos futuros?

Criolo – Sempre pensando aqui em canção, sempre pensando como construir algo positivo, como se melhorar. Esse é o grande desafio. Como a gente pode se melhorar, como a gente pode se perdoar, como a gente pode seguir. São coisas muito delicadas, é muito de cada pessoa, está dentro de cada pessoa. Cada pessoa tem seu tempo, seu momento, seu olhar. Cada pessoa tem que também ter o seu espaço de respeito para esse momento de compreensão. Então, a gente segue entendendo que a arte é sim esse caminho lindo de transformação. A arte em suas mais variadas formas oferece esse processo de autoconhecimento riquíssimo, inconfundível, mensurável e ultra-urgente de autoconhecimento.

O projeto ainda conta com uma vaquinha virtual para repassar recursos para organizações como É de Lei, SP Invisível e Arsenal da Esperança. Para doar, basta clicar aqui.

Cantor também lança canal no Twitch

A partir do dia 09 de junho, Criolo estará no Twitch com um canal com música, reflexões, bate-papos e poesia. Para acessar, basta clicar aqui ou baixar o aplicativo do streaming.

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