
No dia internacional da mulher, o OA resolveu conversar com uma mulher que é destaque no que faz, a Vitória Schwarzelühr, conhecida mais pelo apelido de Dread Hot e é youtuber, atriz, diretora e produtora de filmes adultos (junto com o seu namorado Alemão – também ator pornô – tem a produtora Fever Films). Mas o que a faz chamar atenção nessa área? A bandeira que levanta do empoderamento feminino!
Quem a vê em seu canal no YouTube, pode perceber que a Dread sempre dá dicas e fala de sua vida sexual sem tabus nenhum, pelo contrário, até procura ajudar quem está em dúvida. Agora quem a vê em seus vídeos adultos, percebe que ela procura quebrar um paradigma: fazer com o que pornô seja prazeroso a mulher e que também as atrizes não se sintam desconfortáveis durante as gravações. Durante a entrevista, Vitória chega a falar que em alguns momentos chegou a se sentir incomoda, principalmente no início de sua carreira, no qual conheceu diretores machistas. Além disso, Vitória também tem medo que o termo “pornô feminista” seja mau-interpretado, porém ao mesmo tempo tem o foco de levar um pornô consciente, o que diga-se de passagem é altamente necessário.
Dread vem tendo destaque em um momento que as mulheres estão consumindo mais conteúdo sexual: de acordo com dados do Pornhub, um dos maiores sites de vídeo pornô do mundo, 80% dos acessos de dispositivos móveis vem de mulheres. Entre as categorias femininas mais procuradas estão “lésbicas”, “trios” e “squirt” (ejaculação feminina).
Não para por aí: 24% dos assinantes do SexyHot também são mulheres, de acordo com o próprio canal, que inclusive realiza uma premiação anual que é conhecida como “Oscar do Pornô Brasileiro”, premiando os maiores destaques dos filmes adultos brasileiros. Em 2019, Dread Hot ganhou em três categorias (Melhor Atriz Hétero, Melhor Cena de Sexo Oral e Melhor Cena Homo Feminina). Seu destaque na apresentação chamou atenção do OA e por isso resolvemos entrevista-la. Abaixo vocês poderão conferir mais de sua carreira e de suas produções.
OA – Como surgiu a Dread Hot?
DH – “Criei o nome quando entrei no camming. O nome “Dread” veio por conta dos meus dreads, claro rs, o Hot foi para combinar com a profissão e tal. Gosto do lance de nome composto.”
OA – E como foi o seu início nos filmes pornôs? Você teve algum medo de realizar filme/vídeo pornô?
DH – “O meu primeiro vídeo foi com o Alemão, algo beeeem amador e diferente do conteúdo que lanço hoje em dia. Claro que deu um frio na barriga, um medinho, mas nada que não deu pra contornar rs Foi divertido na real, algo novo pra nós dois.”
OA – Já teve algo que te incomodou durante as gravações?
DH – “Sim, algumas situações. No início da carreira tu faz muita coisa só pelo dinheiro, diz sim pra tudo, então fiz coisas que não faria hoje em dia por exemplo. Alguns fetiches, cenas, enfim… já teve diretor que foi extremamente babaca e machista comigo, diretor querendo me forçar a transar com outro homem (só gravo com o Alemão). Mas felizmente agora como só gravo ou com a XPlastic ou com a minha produtora, isso acabou.”
OA – Ainda sobre os vídeos, qual foi o que você curtiu em fazer?
DH – “Ainnn vários! Adoro contracenar com mulheres. Adoro fazer coisas novas, que nunca fiz. E é ótimo fazer isso ao lado do meu parceiro, ajuda muito :)”
OA – Paralelamente ao seu trabalho de atriz e produtora, você tem um canal no YouTube que fala mais sobre a sua profissão e também dá diversas dicas sexuais. Como surgiu a ideia do canal?
DH – “O camming me ensinou muito e me deu um leque muuuuito grande de experiências e queria compartilhar isso. No início do canal eu ia falar mais sobre a profissão, postar uns vlogs de viagem… mas aí surgiu a ideia de expandir o canal e falar sobre sexualidade, comportamento, enfim, temas que também estão ligados ao que faço.”
OA – Teve algum comentário/história que você tenha recebido lá e que mais tenha te chamado atenção?
DH – “Muita gente pede dicas sexuais e ajuda pra assuntos tipo “como fazer meu parceiro aceitar um menage”. Esses dias mesmo um cara comentou que a namorada dele tem o mesmo nome que a tia e toda vez que ele falava o nome dela no sexo brochava kkkkkkkkkk eu ri muito! Especificamente não tem nenhuma história que marcou, mas sempre leio uns comentários bem legais da galera que se identifica.”
OA – Apesar de estar voltado ao público adulto, creio que você hoje tenha em seu canal um público adolescente, que está iniciando a sua vida sexual. Como você lida com este público? E quais são os conselhos que você dá geralmente a eles?
DH – “A maioria dos meus vídeos caem naquele sistema do YouTube de ser classificado como +18. Então isso já seleciona um pouco o pessoal. Claro que dá pra mentir idade, mas né… como acabo falando muito sobre comportamento e saúde, eu me preocupo muito em pesquisar bastante pra orientar todo mundo da melhor forma possível.”
OA – Como produtora, você pretende revolucionar e lançar filmes pornôs com uma pegada mais feminista, que dê mais prazer a mulher. Você sempre teve esta ideia ou nasceu conforme o passar do tempo?
DH – Quando eu era adolescente eu achava o pornô nojento, não consumia. Isso mudou quando conheci uma galera que produzia conteúdo sério, de qualidade e consciente. Então, quando comecei a produzir e a participar de produções +18, sempre me preocupei em fazer o certo. Ou seja, sempre tive essa vontade de mudar o pornô… e a ideia da produtora surgiu há algum tempo. Eu queria fazer mais, saca? Atingir mais gente. Mostrar que pode haver um pornô consciente. Que a indústria precisa e pode mudar.
OA – Ainda sobre esse universo feminista, como você vê essa mudança das mulheres estarem falando mais sobre sexo, atravessando os tabus de sexualidade?
DH – “É um movimento que vem crescendo há algum tempo. O feminismo ficou muito em alta, as mulheres estão ganhando mais espaço e respeito, então automaticamente as mulheres começaram a se sentir confortáveis de falar sobre sexo e a assumir que consomem pornografia. E, com o aumento do pornô feito para mulheres (o termo “pornô feminista” me assusta às vezes, porque pode ser mal compreendido), mais mulheres começaram a assistir. É um saldo positivo, mas muuuuita coisa tem que mudar ainda, tanto na indústria quanto na sociedade. Tem um caminho longo ainda.”
OA – Ao mesmo tempo que vêm este avanço, ainda há bastante casos de atrizes pornôs que não se sentem bem/confortáveis durante as gravações. Na sua opinião, há como o/a espectador(a) perceba isso e não faça mais consumo deste tipo de filme?
DH – “Tem algumas coisas que tu pode fazer se quer consumir só o pornô consciente. Sempre que for ver um vídeo/filme, procure saber quem gravou aquele conteúdo, quem editou, quem são os profissionais envolvidos. Pesquise mais sobre a produtora e os seus atores. Na hora que tu tá assistindo, alguns comportamentos da atriz também podem indicar desconforto, afinal o corpo e a cara da gente fala, né?”
OA – Qual a dica que você dá para quem está iniciando agora na área, seja como atriz, camgirl ou uma pessoa que apenas faz vídeos caseiros
DH – É o que eu disse acima. Pesquise e procure saber para quem você vai trabalhar ou está trabalhando. Não diga “sim” pra tudo, vá com calma, pense bem antes de aceitar qualquer trampo. Não se submeta nem abaixe a cabeça pra algo que tu sabe que é errado ou está errado. Dinheiro nenhum vale isso!
OA – O que podemos esperar da Dread Hot aqui pra frente?
DH – “Estou 100% focada na produtora. Quero atingir e impactar mais gente e contribuir ainda mais nesse movimento que está mudando a indústria. Esse ano também queremos colocar nossos filmes pra concorrer no Prêmio Sexy Hot e em alguns festivais gringos. Aliás, nosso foco sempre foi ter nosso material na Erika Lust e conseguimos colocar 7 filmes nossos lá em apenas 5 meses. Isso é incrível! O canal no YouTube continua, 2 vídeos por semana, muitas collabs… também pretendo fazer outra música e estou acertando algumas parcerias, mas ainda é segredo :)”