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Entrevista – André Ramiro fala sobre seu personagem em ‘Malhação’, sua luta com a depressão e se ‘Tropa de Elite’ teria o mesmo sucesso no Brasil atual

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Conhecido por interpretar o policial Matias em “Tropa de Elite”, André Ramiro conversou conosco para falar um pouco de sua carreira. Começando pelo sua recente participação em “Malhação – Toda a Forma de Amar”.

O ator conta a nós como foi interpretar o Professor Celso, assim como qual seria o futuro do personagem caso a temporada não tivesse seu final adiado devido a pandemia do coronavírus.

Outro ponto que é destaque na entrevista é sobre “Tropa de Elite”. Perguntamos ao ator se no Brasil atual o longa teria a mesma repercussão de seus dois filmes lançados em 2007 e 2010 (sendo o segundo uma das maiores bilheterias do cinema nacional).

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André também fala de sua luta com a depressão e sobre seu novo álbum.

OA – Como foi para você ter interpretado o Professor Celso em “Malhação” e quais foram os aprendizados com os novos atores?

R: “Foi uma experiência ótima, que encarei com muito carinho e respeito pela profissão dos professores. Além de ser uma das profissões mais lindas e marcar a vida de incontáveis alunos mundo a fora é a mais importantes pra formação de uma nação. Óbvio que, independente da idade ou tempo de carreira, todos aprendemos algo uns com os outros. O mais importante foi o clima de amizade e diversão que rolava no set e no camarim, conhecer um pouco da história e trajetória de cada um dos colegas, além da boa troca de energia entre todos. É esse tipo de relação e troca que nos ensina algo que levamos para a vida.”

OA – Infelizmente por causa da pandemia, as gravações da temporada foram suspensas e isso acabou afetando a história infelizmente. Se não fosse essa pausa, quais outras cenas/história ainda teríamos do Celso?

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R: “Infelizmente tivemos que encerrar as gravações às pressas por causa da  pandemia com o Coronavírus. Infelizmente não tivemos tempo hábil para um desfecho com o professor Celso. Ainda assim, foi uma honra interpretar um professor tão representativo quanto ele.  Acredito que um final interessante para o professor Celso seria um relacionamento amoroso com Neide (sua parceira, professora e coordenadora na escola Otto Lara Rezende) e seu próximo passo seria dirigir um curso pré-vestibular onde ele ajudasse jovens nas comunidades a alcançar o nível superior.”

André Ramiro como Celso. Foto: Reprodução/Globo

OA – Após a novela, quais outros projetos você tem pela frente no cinema e na TV?

R: “Estou selecionado, a princípio, para quatro produções entre filmes e séries que serão filmados ainda em 2020, além da produção do meu novo álbum de Rap.”

OA – Falando em cinema, é impossível não lembrar de você como Mathias de “Tropa de Elite”, um filme que acaba sendo atual apesar de já ter sido lançado há 10 anos atrás. Com isso, olhando para o nosso cenário atual, como você acha que seria o Mathias hoje?

R: “Infelizmente o sistema político, o sistema de saúde, a educação, o acesso as oportunidades, a corrupção, a segurança pública, a polícia, a milícia e o crime organizado não mudaram em muita coisa no nosso cenário atual. Nada melhorou ou foi resolvido. Sinceramente, acredito até que tenha piorado de lá para cá. Os ricos continuam mais ricos e privilegiados e os pobres continuam mais pobres, pagando a conta de tudo sem nenhum benefício ou proteção. As práticas são as mesmas desde que o Brasil é brasil, com personagens novos, entretanto, mais preocupados com seus interesses próprios do que os da população. Quanto ao Mathias, ele foi um personagem que tinha um senso de justiça rígido como grande parte dos policiais que conheci. Não acredito que o personagem seria diferente nos dias de hoje do que foi em 2007 e 2010.”

OA – Ainda falando sobre “Tropa de Elite”, o filme foi lançado antes do Brasil polarizado entre esquerda e direita (o que se tornou mais assíduo após as manifestações de 2013). Agora comparando com o Brasil de 2020, como você acha que o público reagiria ao filme? Teria a mesma repercussão ou seria massacrado por um lado?

R: Embora fazendo sucesso, sendo premiado mundo à fora e alcançando uma das maiores bilheterias do Brasil – denunciando de maneira quase que documental nossos problemas na segurança pública, como a sociedade de uma maneira geral é afetada pelo tráfico de drogas, pela milícia, pela corrupção da polícia e dos governantes -, o filme recebeu duras críticas por parte da imprensa, mesmo naquela época. Teve gente chamando o filme de fascista e até mesmo de estar fazendo propaganda para a extrema direita. É muito difícil dizer se teríamos a mesma repercussão que tivemos anteriormente. O fato é que Tropa de Elite trouxe o assunto a debate, nos motivou a questionar a sociedade que temos e a que realmente queremos, cumprindo na minha opinião a verdadeira função da arte, da cultura e do cinema que vai muito além do entretenimento. Quem dera um filme tivesse o poder de mudar nosso país para melhor, mas indiscutivelmente Tropa De Elite marcou o Brasil, gerações, uma época e o cinema nacional, internacionalmente. 

OA – Falando sobre o cinema nacion al, apesar do “Tropa de Elite” ter sido um fenômeno, ainda se tem muito preconceito com o cinema que produzimos, e isso acaba sendo refletido na dificuldade em que temos desde captar recursos até mesmo a distribuição, infelizmente com a tendência de ser mais cada mais difícil nos próximos tempos. Na sua opinião, o que deve ser feito para o brasileiro passe a valorizar mais a sua própria produção e o que devemos fazer para ‘driblar’ as dificuldades de produzir seja um filme, um curta, uma peça e etc?

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R:  “Vivemos em um país onde o cinema, por exemplo, é caro, não é acessível a todos. Também não somos, em sua maioria, incentivados a consumir e valorizar nossa cultura nacional. Além do fato de que a indústria americana domina o mercado brasileiro ao ponto de seus filmes ficarem mais tempo em cartaz que os filmes brasileiros, sendo os detentores de mais salas e direito de execução. Acredito que o primeiro passo seria implantar nossa cultura na nossa base educacional, das formas mais variadas possíveis. Ensinar e contar a história das artes no Brasil, sobre nossos grande artistas ( e temos inúmeros) e por aí vai. Para que nossas futuras gerações cresçam com orgulho, senso de preservação e apreciação da cultura do nosso país. Depois, abrir o leque de oportunidades ao conhecimento a informação e prática cultural, facilitando o acesso ao consumo e o acesso ao ingresso para o cidadão e cidadã considerados comuns pela “elite”. Não é só uma questão mercadológica, mas principalmente estrutural. E, por último, real interesse da parte do governo e da sociedade privada em burocratizar menos, e investir na cultura brasileira como um dos alicerces e tesouro do nosso país. Investir em melhores recursos e condições de trabalho para nossos profissionais de cinema, que além de gerar milhões de empregos, comprovadamente já gerou renda de até 24,5 bilhões de reais, contribuindo muito para economia nacional nos anos anteriores. Se começássemos esse movimento agora, já, consequentemente teríamos ainda nos dias de hoje resultados significativos e maiores para a produção de conteúdos brasileiros. Isso porquê o assunto em pauta na pergunta foi cinema brasileiro, imagina o resto…”

André Ramiro como Mathias. Foto: Divulgação

OA – Em entrevista ao GShow, você disse que sofreu de depressão e que o esporte junto com ajuda médica e de psicólogo ajudou no combate a doença. Como foi essa fase da sua vida e qual o conselho você dá em quem está nessa mesma situação?

R: “A Depressão é chamada de doença da alma. Não é brincadeira, é perigosa e a maioria esmagadora das pessoas em nosso convívio social não estão preparadas para lidar com ela. Nessa época não tinha forças ou desejo de levantar da cama, tinha que me esforçar bastante para isso. Não conseguia ver as coisas de maneira positiva. Andava introspectivo com um pequeno nível esquizofrênico, além da síndrome do pânico. É claro que isso afetou em minha sociabilidade, algumas pessoas fizeram chacota comigo na frente dos outros, dizendo que era porque eu tive problemas na infância e isso foi humilhante; outras, disseram que era frescura e outras se afastaram de mim. É nesses momentos que você percebe realmente quem são seus amigos e que a família realmente está em primeiro lugar. Deixo claro que não existe mágoas em meu relato, pois me livrei delas em meu processo de resgate próprio. É só para alertar, pois tem gente que passam por fazes como essas e se suicidam sem saberem o porquê de estarem vivendo e passando por isso tudo. Bom… Depois de entender o que estava acontecendo comigo, através do auxílio médico e psiquiátrico, tomei a decisão de buscar o auxílio de Deus, trabalhando o espiritual com muita fé e resiliência. Resolvi mudar o estilo de vida que tinha anteriormente para outro completamente diferente. Alimentação saudável (priorizando frutas, legumes e verduras) bastante água durante todo o dia, voltei a me exercitar regularmente. Fiz as pazes comigo mesmo, perdoei a mim mesmo e aos outros por erros e mágoas passadas. Me permiti perceber o quanto a vida é curta e preciosa para perdermos tempo com negatividades e coisas que não nos fazem bem. Para sair dessa é necessário muita fé e força de vontade – sair da zona de conforto e resgatar seu amor próprio.”

OA – Você também está começando a compor um novo CD. Até o momento, como está sendo o processo e qual ‘spoiler’ você pode dar dele?

R: “Infelizmente não posso dar muitos spoilers, só dizer que estamos produzindo um álbum de hip hop clássico e que no segundo semestre desse ano já soltarei alguns singles.”

OA – Para encerrar, entre cantar e atuar, qual você gosta mais?

R: Não tenho preferência, gosto da fazer arte e influenciar as pessoas positivamente com ela. 

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